Contar histórias é uma atividade que estimula a imaginação, a criatividade e o aprendizado das crianças. Mas como fazer isso de forma adequada e inclusiva para as crianças surdas? Neste artigo, vamos dar algumas dicas de como contar histórias para esse público, utilizando recursos visuais, linguísticos e culturais que valorizem a identidade e a diversidade surda.
A primeira dica é conhecer a língua natural das crianças surdas: a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A LIBRAS é uma língua oficial no Brasil desde 2002 e é reconhecida como um direito linguístico das pessoas surdas. A LIBRAS tem uma estrutura gramatical própria, diferente do português, e utiliza os sinais feitos com as mãos, os movimentos corporais e as expressões faciais para se comunicar.
Para contar histórias em LIBRAS, é preciso ter fluência na língua e saber adaptar o texto escrito para a modalidade visual-espacial. Não basta traduzir palavra por palavra, mas sim recriar a história de acordo com a cultura e a vivência surda. Alguns recursos que podem ajudar nessa tarefa são:
- Os marcadores não-manuais: são elementos que complementam os sinais, como as expressões faciais, os movimentos da cabeça e dos olhos, a posição da boca e a entonação. Eles servem para indicar o tipo de frase (afirmativa, interrogativa, negativa), o tempo verbal, o modo (indicativo, imperativo, subjuntivo), a ênfase, a emoção e o papel do narrador e dos personagens.
- Os classificadores: são sinais que representam objetos, pessoas, animais ou situações por meio de formas, tamanhos, movimentos ou características. Eles servem para descrever cenários, ações e relações espaciais entre os elementos da história.
- A mímica: é a arte de expressar ideias ou sentimentos por meio de gestos e movimentos corporais. Ela serve para dar vida e dinamismo à história, criando cenas e situações que envolvam as crianças.
- Os desenhos: são imagens que ilustram ou complementam a história. Eles podem ser feitos em papel, lousa, cartolina ou outros materiais e podem ser mostrados antes, durante ou depois da contação. Eles servem para facilitar a compreensão, despertar o interesse e estimular a criatividade das crianças.
A segunda dica é escolher histórias que sejam adequadas à faixa etária, ao nível de conhecimento e ao interesse das crianças surdas. É importante levar em conta o repertório cultural e linguístico delas e evitar histórias que tenham muitas palavras escritas ou que sejam baseadas em rimas, trocadilhos ou jogos sonoros. Também é importante valorizar histórias que retratem a realidade e a cultura surda, que mostrem personagens surdos positivos e que respeitem a diversidade.
A terceira dica é criar um ambiente propício para a contação de histórias. É preciso garantir que as crianças estejam confortáveis, atentas e participativas. Para isso, é recomendável:
- Escolher um local adequado, com boa iluminação, ventilação e acústica.
- Organizar as crianças em círculo ou em semicírculo, de forma que todas possam ver o contador e os desenhos.
- Estabelecer regras de convivência, como respeitar o turno de fala, não interromper o contador e não fazer barulho.
- Interagir com as crianças durante a contação, fazendo perguntas, comentários ou elogios.
- Incentivar as crianças a expressarem suas opiniões, sentimentos e ideias sobre a história.
Contar histórias para crianças surdas é um desafio, mas também uma oportunidade de promover a inclusão, a educação e o lazer. Com essas dicas, esperamos que você possa realizar essa atividade de forma eficiente e prazerosa, contribuindo para o desenvolvimento linguístico, cognitivo, social e afetivo das crianças surdas.